BABAU.POLÊMICO E DESAFIADOR AGORA DOUTOR HONORIS CAUSA
BABAU.POLÊMICO E DESAFIADOR AGORA DOUTOR HONORIS CAUSA
Tonet por Tonet
Tonet por Tonet
A solenidade de entrega do diploma de Doutor Honoris Causa outorgado a Rosivaldo Ferreira da Silva, o cacique Babau, pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) foi transmitida pelo canal da TV Uneb no YouTube, na quarta-feira (30), em cerimônia presidida pelo reitor José Bites de Carvalho e vice-reitor Marcelo Ávila, dois anos após a aprovação da honraria pelos membros do Conselho Universitário (Consu).“Cacique Babau é uma personalidade conhecida internacionalmente como referência de luta pelos povos indígenas do Brasil. O título concedido a ele é uma forma de homenagem ao povo Tupinambá, aos povos indígenas e aos nossos antepassados”, destacou Vitor Amaral, proponente do título. Mas a escolha de Babau não foi simples nem em vão. A maior honraria da universidade é conferida a personalidades que tenham prestado serviços relevantes ao ensino, à pesquisa, às letras ou às artes, fora da universidade. Nomes como Thabo Mbeki, então presidente da África do Sul; Abdias do Nascimento, dramaturgo e ativista político; e a líder religiosa Mãe Stella de Oxóssi foram celebrados pela Uneb.
Agora foi a vez de Babau. Líder na Terra Indígena Tupinambá, nos municípios de Ilhéus, Una e Buerarema, no sul do estado – onde vivem mais de 4,6 mil indígenas -, ele resiste aos conflitos por terra há anos. Acusado por produtores rurais dessas áreas por ser invasor de terras e por desafiar direitos de proprietários com manifestações e protestos Babau também já foi preso diversas vezes.
“Desde a pandemia, a comunidade ficou reclusa. Quando eu vi autoridades e o povo da ciência dizendo o que tinha que fazer, eu conversei com todos os parentes e suspendemos todas as reuniões. Decidimos produzir só pra não termos fome, pois o tempo agora é o tempo da morte. Mas hoje, excepcionalmente, quebramos o isolamento para recebermos juntos esse título, pois ele não é meu, ele é do nosso povo, da nossa luta e do Brasil. Onde chamam o tupinambá, nós estamos”, ressalta Babau.
O cacique ainda aproveitou a oportunidade para falar sobre o Projeto de Lei 490/2007, que prevê mudanças no reconhecimento da demarcação das terras e do acesso a povos isolados e que está sendo alvo de protestos indígenas por todo o país, incluindo a Bahia.
“É uma tortura o adiamento dessa PL para os povos indígenas. Precisamos saber mais diante de tudo isso. Recebi esse título e isso mostra que estão lembrando de nós. A Academia está olhando para nós e isso dá força a outros povos e mostra que vale a pena defender a natureza, a vida. Nós não desistiremos jamais do nosso território nessa batalha grandiosa”, afirmou.